“Carrego o Parkinson no palco e na vida há 20 anos”
PAULO JOSÉ, EM DEPOIMENTO A FLÁVIA YURI OSHIMA
02/12/2013
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Descobri que tenho Parkinson em 1993. Estava fazendo um Você decide especial. Quis encerrar o ano com um superprograma, com orquestra sinfônica e três finais para o público decidir qual iria ao ar – normalmente, eram dois finais. Superestimei minha capacidade como diretor. Era um programa cheio de música clássica – Brahms, Beethoven, Mozart, Mahler –, executada pela Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal. Tudo era grandioso. Foi uma edição complicadíssima que me consumiu três dias e três noites, sem sair da ilha de edição. Entreguei a versão final uma hora antes do início do programa. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Menos o comandante, que afundou com o navio, proferindo suas últimas palavras: “My kingdom for a horse. White Horse... on the rocks” (uma brincadeira com o uísque White Horse e o trecho famoso, de Ricardo III, de Shakespeare: “Meu reino por um cavalo”). Alguém me deu um copo com uísque para comemorar. Ao primeiro gole, fiquei tonto e desmaiei. Me recuperei, fui para casa e, no dia seguinte, dormi 22 horas seguidas. Ao acordar, fui tomar o café da manhã. Meu corpo não obedecia a meu cérebro. Minhas mãos não faziam coisas simples como passar manteiga no pão ou escovar os dentes.
Recebi o diagnóstico e me lembrei da frase de Dante Alighieri, escrita na porta do Inferno, em A divina comédia: “Deixai toda a esperança, vós que entrais” (Foto: Arquivo/Ag. O Globo)
Fui parar num neurologista. O mal de Parkinson não aparece visualmente nos exames. É um diagnóstico por eliminação. Se não tem coágulo, não tem tumor, não tem nada, mas tem enorme dificuldade para meter a bola cinco na caçapa do meio, então..."
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